domingo, 30 de dezembro de 2007

Uma Verdade

Olha, eu vou dizer que...ah!? Já tá gravando? Ah, tudo bem! O
lha, vou ser sincero com todos vocês! Eu estou aqui pra roubar, eu quero ganhar muito dinheiro! Deus lhe proteja porque eu não protegerei ninguém. A fome que eu mato é a minha! está desempregado? Problema seu! Não contem comigo. Tua família passa necessidades? A minha também! todas passam, é cada um por si! faz o seguinte, cria um movimento ou algo do tipo e vê se consegue algo! Assalto, sequestro, roubo, marginalidade, tudo isso está aumentado? E o que você acha que eu tenho a ver com tudo isso? O preço das coisas também está aumentado e o salário diminuindo? bem, é a vida! A educação de hoje está muito fraca e existe um descaso? fiquem tranquilos, o descaso existe, não é imaginação de vocês! A culpa não é minha, sempre foi assim! Não tem luz elétrica, água encanada, saneamento básico? Mude-se!
Me chamem de tudo, menos de mentiroso! Não faço promessas!
Desfaz-se neste momento o horário eleitoral politico gratuito.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

No ônibus

O rapaz pega o ônibus, como de costume se senta na janela. Sozinho.
Ele não era feio, mas também não era bonito. Era o mediano.
O ônibus estava vindo lotado agora, não tinha aonde se sentar. Aquele bando de gente séria que não puxavam conversa com ele e só falavam sobre finanças, queda da bolsa, lucros ou então tinha aquela galera do fundão que falava só sobre futebol.
Ele olhava para seu lugar na esperança de encontrá-lo vago ou que ali estivesse alguém com quem pudesse conversar, nem que fosse um “oi, você está sentado onde antes eu sentava”. Em vão. Sempre lotado e sempre as mesmas pessoas, o lugar ocupado sempre por senhores engravatados com cara de poucos amigos.
Eis que um dia ele olha para seu antigo lugar e vê uma moça linda, de longos cabelos loiros, brilhantes, lisos, olhos azuis de um azul tão profundo como o oceano, pela roupa trabalhava em um escritório. O rosto era branco, mas sério. Não sorria, mas sua imponência, sua altivez, isso o atraiu. Ele tinha que sentar ao lado dela, de alguma forma mas tinha que sentar ali. Todo dia o lugar estava ocupado, e ela não esboçava um sorriso,não falava com ninguém. Mas ele não desanimava. Ia sentar ao lado dela. Eis que um dia o destino sorriu para ele: o assento estava vago. Ele poderia sentar ao lado dela. E foi o que ele fez. De perto ela era mais bonita ainda.
Ele olha para ela e começa sorrindo:
_ Oi!
Ela olha e abre um sorriso com todos os dentes tortos e muitos cariados.
_ Oi! – diz ela.
E ele retribui com um sorriso amarelo.

Mulher Artificial

Ela está em seu serviço. Um serviço fútil, vender mentiras, bobagens, algo que você não quer e ela mesma não acredita que funcione...talvez nem saiba pra que funciona. Sai do trabalho e encontra algumas amigas. Vai fazer compras com elas, afinal, o que mais poderiam fazer? Elas querem estar na moda, querem muita maquiagem, tinta de cabelo, baton, blush, gloss e tudo o que possa esconder o verdadeiro rosto delas.
Elas se sentam e começam a falar da vida dos outros. Falam daqueles artistas famoso que estão tão longe que talvez elas jamais o vejam. Se invejam mutuamente pelo que elas têm e as outras não têm. Aquela pulseira cheia de pedras que acreditam ser verdadeiras, ou nem acreditam, apenas fazem com que as outras acreditem. Só tomam o que é diet, o que é light, aquilo que é zero qualquer coisa. Assiste programas de alienação, revistas sensacionalistas e revistas de mentiras, esses são seus hobbies. Ela dispensa dois ou três rapazes. Eles não eram ricos. Agora ela quer fumar, beber, rir dos outros, fazer com que se sintam inferiores a ela. Depois vai a mais uma festa. Muita gente, muito barulho, muito dinheiro e luxo. Terminada a festa ela vai para casa, tira toda a maquiagem, tira a roupa caríssima e guarda, tira a peruca e guarda, tira as unhas postiças e guarda, tira o coração e o cérebro e os guarda. Estes dois últimos estavam meio empoeirados.

Fernando Locke

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Encontro inesperado

Já passa da meia-noite. Ele desce do ônibus. A cidade está dormindo. O silencio impera. A escuridão da noite se choca com as luzes dos postes. No céu a Lua brilha majestosa. As nuvens estão dispersas e as estrelas cintilam entre elas. Mais algumas quadras ele estará em casa, depois de mais um dia cansativo de trabalho. Um ruído. Um cachorro aparece. Eles se olham nos olhos, homem e a animal. O cão uiva. O homem também uiva e depois ri disso.
- Que maluquice! – diz para si mesmo.
- Ora, maluquice porque? – pergunta uma voz.
Ele olha para trás e vê sentado em um muro um homem de jeans rasgados, botas negras, um colete de jeans também rasgado, uma camisa negra por baixo do colete, uma bandana negra entre os cabelos crespos, barba por fazer e olhos cintilantes. Ele fica de pé em cima do muro e então pula para o chão.
- Maluquice porque? – pergunta novamente.
- Sei lá...eu só...
- Quer correr?
- O que?! – ele diz espantado.
- Quer correr, eu e você, até o fim da rua, topa?
- Sei lá...eu...quem é você?
- Que interessa agora? Quer correr ou não?
- Ta...tudo bem! – ele aceita não acreditando muito no que acabou de dizer.
- Então vamos!!!
Eles correm, correm com todas as forças, sentem um prazer em correr, uma sensação de liberdade, um alegria, uma emoção tão intensa, que vem do fundo do peito, quase acreditam que podem voar.
- Foi divertido, não? – o estranho pergunta, agachado, recuperando fôlego.
- Foi!...Foi!...Foi ótimo! – ele diz rindo – Mas to cansado e eu preciso...
- Vamos de novo?
- O que?! Não...Não...Não mesmo!
- Ora homem! Por que não? Vamos!
- Tudo bem...mais uma vez! – ele suspira.
Correm novamente rua abaixo, pulando latas de lixo, passando entre as árvores, por cima de cercas e entre as ruas desertas, a mesma sensação preenche seus corpos.
- Cara, essa foi ainda melhor!
- Sim...muito bom...- diz ele cansado e rindo.
- Olhe os cães!
- Sim, começaram a uivar...o que tem de mais nisso?
- Vamos também!
- Você ta brincando né?
O estranho uiva e os cães o acompanham.
- Tudo bem...
Ele uiva também. Todos começam a uivar para a lua, como uma única voz, um único uivo. Os cães, ele, o estranho. Eles abrem os braços e sentem o vento frio da madrugada.
- Puxa, isso é legal...mas eu preciso...
- Vamos naquela árvore!
- Para que?
- Vamos subir nela!
Eles começam a subir uma frondosa árvore. Pulando entre os galhos, se esgueirando entre as folhagens e olhando para o céu.
- Nossa, a vista daqui de cima é ótima!
- Uma beleza,não é mesmo? Veja...dá pra ver a cidade toda!
- Sim...nossa, eu não fazia idéia disso!
Os dois uivam novamente para a lua e riem.
- Agora pule. – diz o estranho.
- O que? Daqui?
- Sim, ande, pule!
- Não!
- Não vai se machucar, vamos, pule!
Ele pula e o outro o acompanha.
Depois vão andando até a casa dele, afinal já era muito tarde e faltava menos de meia quadra até lá.
- Pois é...essa é minha casa! – diz ele na frente do portão.
- Então ta, adeus!
- Espere!
- Sim? – ele pergunta de costas.
- Obrigado, mas...como é seu nome?
O estranho continua andando indo em direção as sombras e diz:
- Instinto, meu amigo...Instinto!



Fernando Locke

A Solidão

Ele caminha pela rua.O vento carrega as folhas secas do Outono e trás um aroma de tristeza. A noite está observando tudo do alto e o frio se faz presente. A noite e o frio formam uma bela dupla. Dupla... está aí uma palavra que ele se arrepende de não ter aprendido.
Ele continau andando pela rua deserta e olha para uma enorme casa branca com um balanço e se lembra de sua infância. Ele ri ao se lembrar daquele dia em que estava junto com os amigos e todos brincavam no balanço, até que um caiu e saiu chorando. Por que agora estou tão sozinho? Ele faz a pergunta mas no íntimo sabe a resposta.
Continua andando e observa outra casa, uma família interia reunida a mesa, todos jantando, rindo e se divertindo, um senhor levanta um champanhe e eabre, fazendo uma festa com todos. Ele passou por algo assim...uma vez...com sua família, era véspera de ano novo, agora tudo está tão diferente.
Não devia ter dado tanta importancia ao trabalho, devia ter ouvido os amigos, devia ter aceitado conselhos, devia ter estado com quem amava.
Ele observa uma arvore, nela estão escritos dois nomes em meio a um coração, então ele se lembra de sua ultima namorada. Nossa...quanto tempo faz isso! ele coça a cabeça e nem acredita que aquela briga aconteceu. Como fui estúpido.
Olha e observa dois garotos brincando numa varanda. se lembra de seu bom amigo, dos momentos que passaram juntos e de como se entristece ao lembrar que teve de escolher entre o amigo e o seu sucesso profissional. Agora percebe que escolheu errado.
Ele olha e vê que a rua chegou ao fim. Se entristece e volta para o inicio da rua e um pensamento o invade " Quem dera a vida fosse como essa rua....e eu pudesse voltar atrás"...